TEATRO, TV, CINEMA E RÁDIO

A Voz e as Artes Cênicas

A voz utilizada nas artes cênicas é multidirecionada e precisa se adequar de forma correta - e não patológica - às diferentes solicitações dos diretores, ao veículo em que é utilizada, ao espaço físico e aos recursos tecnológicos utilizados.

O teatro, a televisão, o cinema e o rádio apresentam diferentes formas de expressão. Evidenciar os diferentes tipos de interpretação que eles requerem e favorecer a prevenção dos problemas vocais que acometem os profissionais, através do levantamento de suas causas e da observação sobre as diferentes formas como a voz é utilizada nesses quatro veículos, contribui para melhorar a performance vocal desse ator e o colocará mais apto a dominar as diferentes linguagens.

O uso diferenciado da voz nos quatro diferentes tipos de interpretação, isto é, na prática do rádio-teatro, em cenas teatrais encenadas em diferentes tipos de palcos e para diferentes platéias, e na prática televisiva e cinematográfica, requer variedades principalmente quanto à intensidade da voz, quanto ao tipo de interpretação, quanto às posturas corporais, quanto às expressões fisionômicas e verbais, e quanto ao posicionamento em relação à platéia. Cada um destes veículos requer um tipo de emissão vocal e de interpretação diferenciada.

As várias nuances do uso da voz e do corpo nesses quatro veículos inicia-se com a interpretação sem a expressão corporal explícita, como no caso do rádio-teatro, passa pelo uso mais contido da voz e do corpo como na TV, e vai num crescendo, passando pela linguagem cinematográfica, e culminando com o estudo da voz em diferentes tipos de palco: italiano, arena, ao ar livre e também a voz usada nas improvisações teatrais, quando geralmente acontece um descontrole vocal.

Quando mencionamos o rádio-teatro, lembramos sempre de vozes inesquecíveis: Mário Lago, Floriano Faissal, Rodolfo Mayer, Brandão Filho, Dayse Lucidi, Armando Louzada, Henriqueta Brieba e tantos outros. Este veículo, juntamente com o teatro, são os que mais desafiam os atores, pois, no primeiro, ele tem que aliar emoção, sentimento e técnica sem o uso da expressão corporal, embora sentindo o seu corpo como se fosse o do personagem, e no segundo, no teatro, ele terá que passar suavidade e carinho na voz, ou sussurrar, fazendo-se ouvir pela platéia, sem contudo perder a emoção na voz. São dois grandes desafios vocais interpretativos.

A aplicação prática do Método Espaço Direcional atende e ajuda esse ator múltiplo, pois trata-se de um método holístico multi-sensorial cinético-cinestésico, onde corpo e voz formam um binômio interdependente.

A percepção do espaço global nas diferentes linguagens é fator essencial para o desempenho vocal. Há uma grande distância entre o espaço físico visualizado e o espaço percebido, captado pelos nossos cinco sentidos. É através da percepção do espaço que o ator projetará adequadamente a sua voz.

A observação sobre as alterações vocais e a conseqüente abordagem clínica preventiva, minimizam o desgaste da voz do profissional das artes cênicas, que deve ser capaz de reconhecer suas limitações vocais e de manter o binômio intensidade da voz e altura vocal equilibrado.

Os exercícios vocais realizados isoladamente são terapêuticos, porém, no caso específico do ator, para melhor instrumentalizá-lo, terão que ser adaptados e trabalhados através de exercícios práticos de improvisação, interpretação de textos, cenas teatrais, televisivas e rádio-novela, ocasião em que treinarão diferentes tipos de emissão vocal.

In: BRITO, Marly. Voz em Cena. Organizadora: GUBERFAIN, Jane. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter, 2003. ISBN 85-7309-817-1